sábado, 26 de setembro de 2009

MEU PAI



Foto Gioia Jr. e Seu pai Raphael Gioia Martins
           Perdi-o.
           Não o tenho.
           Telefonarei para a sua casa e da distância, voz um tanto abafada,
palavras de ternura de rosa (desta mesma rosa que está sobre a mesa em que escrevo),
ele não falará comigo.
           Não estará mais lendo em sua biblioteca (a imensa colméia de onde vinham
seus sermões). Não virá mais orar à cabeceira de minha cama quando eu estiver doente.
           Seu púlpito está vazio. Tristemente vazio. Onde os gestos largos e firmes? As mãos
para trás e o corpo todo sentindo o sermão na ponta dos pés? Onde o timbre de voz,
doce e penetrante, metálico às vezes, outras vezes aveludado?
           Não o ouviremos mais recitando o salmo predileto.
           No Natal enfeitará de saudade nossas possíveis alegrias.
           O terno preto dos domingos, levou-o um pobre.
           O chapéu inconfundível, autêntico, real como uma vida, dorme sobre o cabide.
Não há mais sol ou chuva que desçam sobre sua cabeça bonita, pintalgada de neve."Eu irei
para ele, porém ele não virá para mim." Perdi-o. Há coisa mais triste?
           Perdi-o.
           Não o tenho.
           Desejarei falar com ele, como quem morre de sêde, e ele não ouvirá a minha súplica.
Trocarei bens e glória e prazeres e planos por uma migalha do seu sorriso, por uma gota do brilho
dos seus olhos. Não sorrirá. Não me verá. Dele resta o grande vazio que ninguém preenche.
Um nó em minha garganta, as mãos trêmulas, os olhos vermelhos.
           Deixamo-lo no Araçá, no alto de uma colina. À sombra de velhos eucaliptos. O sol não
calcinará a terra em que descansa. Ali oramos, ali cantamos. Dali saimos confortados pela
certeza de que "os que crêem NELE ainda que estejam mortos, viverão."

(Esse foi o poeta Gióia Júnior, tão amigo, tão querido, falando da morte de seu pai,
Pr.Rafhael Gióia Martins, e da saudade que sentia de sua ausência)


Gioia Jr. - Autor de 15 livros sendo 13 deles de poesia, Gioia Jr. foi lider sindical, politico e apresentator de TV. No SBT ganhou fama com o bordão "e chega de prosa", que usava para finalizar os comentarios feitos durante os noticiários.Mas é na literatura que ele deixou uma marca indelével.Nascido em Campinas foi criado em São Paulo onde seu pai era pastor da Igreja Batista do Brás.Estudou direito mas sua vocação de comunicador o levou para o jornalismo e televisão, foi um dos maiores nomes da poesia cristã nacional. Faleceu de infarto no dia 17 de abril de 1996.

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