quinta-feira, 17 de setembro de 2009

PROTO-EVANGELHO - Ex. 40.34, Lv.1.1

          O livro da Bíblia que recebeu o nome de Levítico não é apenas um manual para o trabalho dos levitas, nem tão somente um amontoado de leis de leitura exaustiva, como alguns imaginam. Pelo contrário, ele lança as bases para a fundamentação do evangelho, sem o que este não seria suficientemente valorizado.
          No Levítico Deus está falando e se manifestando na "tenda da congregação", não mais no Sinai. O monte Sinai revelava o Deus santo que exigia santidade de quem dele se aproximasse - Ex. 19.14-25. Em certas condições, sua presença com os  israelitas seria mais devastadora que abençoadora, por causa do pecado - Ex. 19.24, 33.3. Por essa razão o Senhor transfere as manifestações de sua presença para o tabernáculo, para dentro do véu. Essa foi a forma que Deus encontrou para estar com seu povo, sem destrui-lo, figura magistral do que se daria em Cristo, na encarnação - Hb. 10.19-22.
          A inflexível santidade de Deus se une à graça, no tabernáculo, para que a questão do pecado fosse tratada; ali Deus se manifesta no seio do seu povo e o problema do pecado é resolvido por meio do sangue. Sem entender isso, não há como compreender profundamente o evangelho, nem o próprio livro Levítico.
          Por outro lado, que maravilhosa conotação desse ensino com o evangelho! Deus é santo e continuará a ser santo, sublime, elevado, como definiu Rodolfo Otto: Numinosum, Tremendum, Fascinosum. Portanto, para sempre, "Glória a Deus nas alturas" -Lc. 2.14. Mas, ao mesmo tempo, Ele procura estabelecer comunhão com os homens , por isso: "Paz na terra entre os homens a quem Ele quer bem!".
          Vê-se que o grande propósito de Deus é unir a glória divina e a bem-aventurança humana. A manifestação da glória do Senhor no homem será sempre, também, a felicidade deste.  A solução definitiva desta questão está na encarnação e na crucificação. A cruz é o lugar onde Deus, de fato, condenou o pecado na carne - Rm.8.3.
          No Levítico fica delineado que Cristo não somente morreria em nosso lugar, levando sobre si os nossos pecados, mas [o que é mais profundo ainda], Ele se tornaria pecado por nós - 2Co.5.21. A explanação no Levítico vai desde o pecado-culpa até o pecado-raça, criando a possibilidade do novo homem - Ef.4.22-24, Cl.3.6, procedente da verdade e não da desobediência.
          Tudo que está prefigurado no Levítico cumpre-se em Cristo. Ele não veio para revogar a lei , mas para cumpri-la em todas as suas particularidades. Cada detalhe da lei levítica aponta  para  pormenores da vida de Jesus. Até Cristo ninguém havia feito plenamente a vontade  de Deus. Homens como Abraão, por exemplo, viveram por fé e obediência ao Senhor; mas foram imperfeitos. Ninguém, na verdade, agradou ao Senhor quanto seu Filho, o nosso Salvador; sobretudo, quanto ao espírito da lei - Hb.10.8-9. Sua submissão ao Pai foi voluntária: " Eis aqui venho para fazer, ó Deus, as tua vontade".
          Por certo, até mesmo os anjos ficaram estupefatos, diante da disponibilidade do Filho em fazer a vontade do Pai, princialmente em dar sua vida na cruz. Jesus não fora compelido a dar sua vida por força das circunstâncias, como se não houvesse outro recurso. Ele encontrou na cruz uma forma de expressar todo seu amor diante do Pai. "Morrer na cruz, para o Senhor Jesus, não foi uma obrigação, foi sua paixão" - disse um comentarista bíblico. Estas são suas expressões: "Uma comida tenho para comer que vós não conheceis; esta é fazer a vontade de meu Pai", "Não haverei de beber o cálice que meu Pai me deu?", "Eu para isso vim, para isso fui enviado"; "Eis-me aqui, agrada-me fazer a tua vontade".
          Entre o Calvário e o coração de Deus houve, por certo, uma linguagem especial, uma comunicação, que somente o Deus Trino pode entendê-la e, muito mais profunda que a linguagem de um pecador [arrependido], imolando no altar, com toda sinceridade, sua oferenda. Por isso tudo, a obra de Cristo , aplicada em nossa vida, não somente expiará o pecado, removerá a culpa, como trará para dentro de nós essa mesma paixão de Jesus - Gl.2.19-20.
           Quando Paulo fala do desejo de conhecer cada vez mais o amor de Jesus, Ef.3.17-19, não está somente falando do amor dele para conosco, mas do seu amor perante o Pai. E, também  podemos dizer que, o grande desejo do nosso Mestre é exatamente esse:  nos envolver nos liames desse amor - Jo.14.20-21. Quem se prende nesse amor não tem dificuldade em abrir mão das volúpias do pecado - 1Jo.2.15-17.

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