quarta-feira, 23 de setembro de 2009

UM PEDAÇO DE PÃO



Quem diria que, sobre um pedaço de pão,
Nos desse o professor tão sublime lição.
À hora da merenda, um colega peralta,
Em cuja casa, com certeza, o pão não falta,
Bateu a mão de um outro e o pão que se comia
(Um pedaço de pão seco já do outro dia),
Lá foi parar no chão, sujando-se de pó;
Sorri o malfeitor, sem ter ao menos dó
Do pobre coleguinha. O professor, passando
Ali, viu o incidente e foi se aproximando,
Seguido, logo após, de uma curiosa escolta
Que, chegando-se ao local, postou-se toda em volta,
O mestre disse então: "bastante me contristo,
Porque um aluno meu chegara a fazer isto.
Aluno é, para mim, como se fosse filho
E pesar se menospreza o correto trilho;..."
Então, olhou o pão...
E prosseguiu depois de uma pequena pausa:
"Meus filhos, este pão vai hoje vos servir de causa,
De uma lição, talvez, pra vossa vida inteira.
Este pão representa a condição primeira,
De toda vida humana: alimento e trabalho.
Este pão nos sustenta e já deu agasalho:
Primeiro ao lavrador que cultivou o trigo;
Depois, ao moleiro que tem o seu abrigo,
Fabricando a farinha. Em seguida o padeiro
Que amassa e faz o pão. Vem ainda o forneiro
E mais o lenhador que a lenha lhe fornece,
Com a qual se queima o forno e logo aquece
E tantos outros mais de papéis secundários...
No fabrico do pão... Oh! quantos operários!
Lutando contra a fome, em trabalho constante,
Gastam do seu corpo a energia possante,
Banhados de suor, caidos de cansaço,
Para fazer, enfim, este simples pedaço
De pão. Ah! bem cruel é quem o deita fora;
Por certo, em seu peito, a gratidão não mora.
Meu filho, bem vês que a tua irreflexão
Foi ingrata e cruel para com este pão.
Não faças isto mais, este menino é pobre;
Não lhe deves tirar o pão que o escasso cobre
Lhe concedeu." Assim falou o professor,
Cheio de comoção, sabedoria, calma e amor;
E o menino peralta a lhe pedir perdão,
Jurou que nunca mais desprezaria o pão.
     (Gustavo Kuhlmann)

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